segunda-feira, 3 de abril de 2017


Abro os olhos. O quarto está totalmente envolto na escuridão, e não há um único feixe de claridade a passar por entre as persianas. Conduzo a minha visão para o despertador em cima da mesa de cabeceira. 3:50 da manhã. Fecho os olhos novamente. Dirijo a minha mente para os cenários mais utopicamente exequíveis, na esperança de adormecer rapidamente. No entanto, apenas um pensamento paira na minha mente.

Sinto o clima gélido das noites de fevereiro na minha pele cálida. Olho para a janela à minha frente e permanece de noite. Está um silêncio sepulcral e desconfio que a esta hora, não é suposto estar aqui ninguém. O meu batimento cardíaco está forte, desenfreado. De imediato conjecturei que todo este cenário fosse um possível pesadelo, ou que este batimento cardíaco não passasse apenas de uma impressão ilusória deste sonho. Porque apesar de tudo, estou em paz, extremamente tranquila, não pode ser um pesadelo. Então, o que é?

De repente, oiço uma respiração que não a minha. Primeiro distante, mas gradualmente torna-se cada vez mais próxima, mais intensa. Com o aproximar daquela doce respiração, juntou-se um batimento cardíaco, semelhante ao meu, acelerado, pulsante, contrariamente à respiração, serena e pouco audível. Sinto um arrepio percorrer cada recanto do meu corpo. Uma sensação de bem-estar penetra-me a pele e invade-me, desde o âmago da minha alma, ao ímpeto do meu ser. Tento perseguir a melodia que ecoava na minha cabeça e que me deixava tão estranhamente confortável. Estava claramente atrás de mim. Mas quem seria? E porque é que estaria ali também? O que seria tudo isto afinal? Precisava apenas de 2 segundos de coragem insana e o mistério estaria solucionado. 

Fecho os olhos e viro-me. De imediato sinto algo a agarrar-me com força, a prender-me, a puxar-me contra si. Quem seria? Porque é que me estaria a fazer isto? Queria abrir os olhos, mas havia algo que não mo permitia fazê-lo. Porque é que eu sentia que aquele momento não era algo forçado, mas sim algo que eu no fundo também queria? Mantenho os olhos fechados e concentro-me, apurando cada um dos meus sentidos. Oiço a respiração que ecoava naquele espaço. Sinto o calor que emanava daquele corpo incógnito, mas que, no entanto, me parecia tão familiar. Sinto o doce perfume que pairava no ar. Agora tudo fazia sentido.

Abro os olhos, desta vez com segurança e extrema facilidade. Lá estavas tu, com o teu brilho característico no olhar que eu detetava sempre que olhavas para mim, desde o dia em que o destino decidiu que os nossos caminhos se deviam cruzar. Não conseguiste não esboçar um sorriso e abraçaste-me com força. Senti cada centímetro teu colado a mim, e senti-me em casa. Soltaste-me um pouco e olhaste-me nos olhos. Fixaste-os de tal forma que te senti, mais uma vez, a tentar decifrar-me a alma, a tentar desvendar todos os meus mistérios. Adorava saber o que te cruzava a mente de cada vez que olhavas para mim assim. Desvendo-te, também eu, a tua alma com o olhar, e vi a minha imagem, algo distorcida, mas nítida o suficiente para eu entender que parte de mim já morava em ti. Beijei-te lentamente. Também tu já possuías um lugar em mim, mesmo sem eu o saber. Beijei-te novamente, desta vez de forma fogaz, e logo senti cada recanto teu, do corpo à alma. Desnudaste-me um pouco a alma com a facilidade como desde cedo tiveste, nessa tua batalha incessante de saber o que há por detrás de todas as minhas máscaras. Senti as tuas mãos gélidas no meu semblante. Olhaste-me nos olhos. "´és tão diferente". Os vocábulos que a tua voz rouca e serena proferiu, deixaram-me petrificada.

Os teus olhos tentavam desenfreadamente entender que impacto tais palavras teriam tido em mim. Recosto a minha cabeça no teu peito, envolves-me nos teus braços e não consigo evitar esboçar um sorriso. Inspiro profundamente e sinto o teu perfume em tudo o que me rodeia, tornando esse doce aroma em oxigénio para os meus pulmões. Escuto a tua respiração no meu ouvido e sinto o teu batimento cardíaco no meu rosto. Sou abalada por uma panóplia de sensações e emoções, sinto-me levitar. Estou tão bem, finalmente. E saber que também estás bem, eleva-me ainda mais. Ambos sabemos que não é pressuposto sentirmo-nos assim, foi o combinado, mas não consigo fugir muito mais de algo tão surpreendentemente forte. Por momentos questiono se de facto quero manter esse combinado. Sinto o meu corpo a congelar. Esqueço o assunto.  Beijo-te em tom de despedida. Quero tanto ficar, mas tenho de ir. Viro costas e agarras-me no braço. Puxas-me para ti e roubas-me um último beijo. Ambos seguimos cada um o seu caminho. Não querendo ser cliché, tento não olhar para trás, mas acabo por fazê-lo. Foste cliché. Fixavas-me, parado e voltado para mim. Sorrimos e virámos costas. Já sem os teus olhos cravados em mim, dei por mim a sorrir discretamente. Sinto-me idiota porque não haverá mais nada para além disto, nem pode haver. Foi o acordado entre nós. Mas e se...? Não, não pode ser. Cerro os olhos, inspiro profundamente, e sinto o teu perfume em mim. Em tudo o que me circunda. Quase que sinto de novo o teu toque, tão preciso, tão seguro, em cada milímetro meu. Oiço a tua voz, ora suave, ora intensa. Sinto o teu abraço, o calor que emana da tua pele. Sinto o teu beijo. Sinto-me novamente a levitar.

Nunca eu pensei que aquele fosse o nosso beijo de despedida.

Subitamente, o meu batimento cardíaco alterou-se. Permanece veloz, no entanto, a sensação de levitação deu lugar a um mau presságio que acabara de se acomodar confortavelmente em mim. Sinto um nó na garganta e tenho o estômago às voltas. Encontramo-nos de novo frente a frente. A distância emocional entre nós permanece intacta, consigo contemplá-lo perfeitamente no teus olhos, que tentam, como sempre, desnudar-me a alma. No entanto, a distância física aumentara drasticamente. Já não sentia o calor da tua pele em mim. A tua respiração e o teu batimento cardíaco estavam agora mais distantes e quase inaudíveis. O teu toque e o teu beijo estavam à distância de 2 segundos de audácia insana da minha parte. Eu sabia que se agisse, tu agirias comigo. Mas não tive coragem, e embora a minha alma estivesse a ser desnudada pelo teu olhar a cada minuto que passava, ambos permanecíamos imóveis, petrificados. Ainda que eu te sentisse como uma doce lavareda a incendiar cada poro da minha pele, consumando assim uma paixão ardente como a que nos unia, na realidade, tentávamos descabidamente manifestar um clima gélido irreal nas palavras que ambos proferíamos. O combinado. Nenhum de nós soube cumprir com isso.

"Eu gosto de ti, mas não posso correr o risco de magoar alguém como tu. Nós temos tudo para resultar, e isto custa-me imenso, mas eu não consigo. Ambos sabíamos que não estava pronto para isto.". Das palavras mais dolorosas que já ouvi. Um sentimento altamente agridoce invade-me. Sei que tens sentimentos por mim. Sei que finalmente alguém me valorizou e me teve em consideração. Mas, em contraste, sei tudo aquilo que estou a perder. Tudo o que aquelas palavras me extorquiram e levaram para longe como se fossem suas, como se não houvesse nenhuma chance de virem a ser minhas. Pior que isso foi ver nos teus olhos que o teu desejo de arriscar era tal como o meu, inseguro, latente, mas real, genuíno, pulsante, irracional, visceral. No entanto, estavas convicto de que o melhor seria disfarçar esse desejo com concepções unicamente racionais, juntamente com alusões ao passado de ambos. Senti os olhos a inundarem-se de lágrimas, tornando a minha visão turva. A sensação de impotência. A consciência de que afinal havia um certo sentimento que até aí insistia em ocultar de mim mesma, por muito diminuto que ainda seja. Fecho os olhos. Sinto as lágrimas quentes e salgadas a fluírem pelo meu semblante.

Abro os olhos. A minha almofada vazia perdeu o teu perfume, e nele já só mora a fragrância da tua ausência, atolada de memórias e antigos sorrisos e histórias para contar. Choro por uma situação que nem eu mesma compreendo corretamente. Sinto tudo tão intensamente, e, no entanto, não possuo sentimentos por ti que o justifiquem. Pensar que te perdi causa-me uma dor pungente. Perdi-te, mas será que te cheguei a ter? Ambos sabemos que fomos díspares de todos os anteriores, que fomos únicos até então. As nossas almas conectaram-se como nunca nenhuma delas se havia conectado antes. Foi pura poesia escrita nas curvas dos nossos corpos e nas linhas dos nossos destinos. Mas será uma conexão capaz de despertar em mim tantas emoções, tão intensas?
Talvez seja por saber o que estamos a deixar para trás. O nosso passado é determinante, digo-o tão ciente e receosa como tu. No entanto, sinto que desta vez poderia ser diferente. Não me importa quem foste, o que já fizeste e com quem estiveste, apenas me importa quem és e quem estás disposto a ser. Quero unicamente que sejas alguém que vale a pena, alguém que faça a diferença. E acho que foi precisamente isso que me amedrontou. Teres-te revelado como tal. E por me teres mostrado, dia após dia, que eras diferente. Só espero que não sejas mais uma pessoa com quem o meu caminho se intersecta, mas que no final, não deixa saudade. E é por eu saber justamente que não o és, que estou no limbo.

A tua mente pode conduzir-te para todos os panoramas exequíveis em que eu não me encontre. Podes tentar esquecer-te da minha existência, da alma que te reconheceu, sendo reconhecida. Podes tentar procurar o meu sorriso, o meu olhar, o meu toque, o meu beijo, o meu abraço, a minha voz, em inumeráveis vultos incógnitos pelas ruas da cidade. Podes até encontrar certos rostos que encaixem no teu, certos corpos que coincidam com o teu. No entanto, apenas existe um encaixe perfeito, e até prova discordante, eu acredito que sou eu. Admito que, no ímpeto da minha alma, ainda detenho um resquício de esperança de que voltes atrás. De que te apercebas que estás a perder uma mulher que não encontrarás igual. Eu não sei o que é isto, mas algo em mim diz-me que ainda não acabou. Ganha consciência e luta contra os temores, agarra-te a isto, mesmo que não saibamos o que é, e dá um disparo no escuro. Faz o que desejares, mas não me deixes partir. Não assim. Não me deixes partir sem saber o que somos. Ou o que fomos, o que podemos vir a ser. Ou aquilo que sempre fomos e nunca nos apercebemos. Conexões como a nossa não se encontram facilmente. Não a ignores. "procura-me como se nunca me tivesses tido. Agarra-me como se eu fosse desaparecer. Faz de conta que o para sempre só existe comigo".

Que seja um até já.

- texto ficcional-  

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Moda: Várias suposições, uma realidade.



   
 Estamos em plena época das semanas da moda europeias, onde as cidades de Paris, Milão e  Londres constituem o palco das mais recentes criações dos mais conceituados estilistas do mundo da moda. Trata-se de um evento bastante ansiado pelos amantes da moda e styling, e deste modo, a Fashion Week tornou-se ao longo dos anos, um dos eventos de moda mais conceituados da atualidade.


No entanto, quando o tema “semana da moda” ou, na verdade, quando qualquer tópico relacionado com moda é supracitado, quer em artigos como este, quer numa mera conversa entre amigos, é em inúmeras situações facilmente interpretado como algo fútil, superficial e vazio de conteúdo. Embora esse problema seja causado única e simplesmente pela nossa sociedade atual e pela existência de determinadas mentalidades específicas, trata-se de uma realidade e não há como fugir dela. Ou talvez haja. Talvez se deva começar a encarar a moda de uma forma mais “outside the box”. Não como “um conjunto de raparigas e rapazes que simplesmente desfilam numa passerelle com roupas de outros e que ganham dinheiro com isso”. Sim, esta é a mentalidade de inúmeras pessoas, infelizmente. Aliás, o pensamento é ainda mais pessimista quando se faz referência às mulheres deste mundo. A primeira concepção, embora seja algo legítimo, são as modelos com distúrbios alimentares e o ridículo tipo de corpo dito “perfeito” que a indústria da moda parece impingir à sociedade, bem como a sua influência na geração atual feminina. No entanto, embora este seja um problema legítimo e inegável, não é ele que caracteriza o mundo da moda. A moda não é isto. A moda é arte, a moda é indústria, a moda é história, progresso e inovação. Então e se a encararmos tal como ela é? Como uma arte tão legítima quanto o cinema, a música, a pintura, a dança e até a literatura? E se a encararmos como uma indústria que sofreu inúmeras revoluções e inovações até chegar aos dias de hoje? E se nos lembrarmos que as mulheres da moda não são apenas as modelos, mas sim as estilistas, que revolucionaram esta indústria, e que deste modo, alteraram o modo de viver de mulheres e homens por todo o mundo nas mais distintas épocas? Com este artigo venho falar exatamente disso, do facto da moda ser uma das mais importantes indústrias do mundo, bem como das pessoas que se envolvem nela e que a revolucionaram ao longo dos tempos.

Comecemos com Gabrielle “Coco” Chanel. A estilista francesa foi responsável por uma enorme e marcante transformação no vestuário feminino, acrescentando peças da alfaiataria na época da Segunda Guerra Mundial. Na década de 20, mais conhecida como “os loucos anos 20”, Chanel criou peças bastante versáteis e práticas, que permitiam às mulheres uma maior mobilidade, libertando-as das roupas rígidas que eram características até à data, e permitiu igualmente que as mulheres utilizassem peças que anteriormente seriam exclusivas do guarda-roupa masculino, como as calças, o que proporcionou às mulheres, embora apenas de uma forma abstrata, uma expressão do ideal de autonomia que tanto desejavam na época em questão. Umas das suas criações mais icónicas – e ainda atual – é o emblemático LBD (Little Black Dress), peça essa considerada atualmente um dos essenciais de qualquer guarda-roupa feminino. 

De seguida, falemos de Miuccia Prada, uma ex-militante do Partido Comunista Italiano e formada em Ciência Política. Miuccia herdou da família a indústria Prada, até então marca produtora de bagagens, bolsas e artigos de couro, e transformou-a numa marca de malas (de mão e de viagem) e baús feitos à mão. Mais tarde começou a desenhar roupas e a Prada tornou-se numa das marcas de moda mais consagradas do mundo, de renome mundial e numa potência poderosíssima de moda, que lança tendências, produz conceitos e move multidões, sendo considerada um símbolo de luxo e status. No entanto, por mais feminina que seja a marca, a estilista tem sempre como objetivo principal escapar um pouco das coleções ditas sensuais, focando-se numa moda intelectual, para mulheres inteligentes, bem informadas e inovadoras, o que mais uma vez demente um pouco o estereótipo que é imposto à moda e às estilistas, mostrando que moda pode também significar inteligência, poder, atitude. A editora da Vogue americana, Anna Wintour, chegou a declarar que “Prada é o único motivo para alguém assistir à semana de moda de Milão”.

Falemos agora de Mary Quant, uma estilista britânica que na década de 60 foi a responsável pela criação da mini-saia. Na sua juventude, Mary criava as suas próprias roupas, e começou a comercializá-las porque considerava a moda daquela época “terrivelmente feia”. Mais tarde, criou um diminuto pedaço de pano que acabaria por revolucionar totalmente o guarda roupa feminino: a mini-saia. As saias até então usadas por todas as mulheres tinham aproximadamente 30cm de comprimento nada tinham a ver com esta peça em questão, o que simbolizou um choque radical na época e na sociedade em questão. No entanto, o choque gera sempre a mudança, e em poucos anos, Mary Quant expandiu esta tendência de uma forma absolutamente voraz, com milhares de pontos de venda em todo o mundo. A sua loja tornou-se então, o símbolo da vanguarda dos anos 60 e 70.
Stella McCartney, filha do grande ex-beatle Paul McCartney, é uma estilista britânica e, para além de ter tido a sorte de estagiar com Christian Lacroix aos 15 anos e ter trabalhado com Tom Ford na Gucci, em 2001, criou a marca de luxo que tem o seu nome, e Stella é conhecida por ser a porta-voz dos direitos dos animais e por não utilizar pele nem couro nas suas coleções, sendo a pioneira da moda vegan e ambientalmente consciente, tendo um papel importantíssimo na defesa dos animais numa indústria que, sejamos sinceros, consegue ser por vezes muito cruel para com eles. Tudo isto é algo bastante importante sendo que o uso de peles e couro nas coleções dos estilistas constitui um dos temas mais polémicos que caracteriza o mundo da moda. As suas coleções são caracterizadas pelo minimalismo, peças femininas com toques andrógenos, tudo com o selo “Fur free fur”, ou seja, pele livre de pele.

Outra vanguardista foi a revolucionária Vivienne Westwood. Foi considerada uma das pioneiras da moda punk na década de 70. Se Londres é considerada a capital da moda rock n’ rol, Westwood é definitivamente uma das maiores responsáveis por este facto. A estilista fundou a marca Let it Rock, com o propósito de marcar a diferença na indústria. E conseguiu. O estilo punk, incluindo a moda BDSM (Bondage, Domination, Sadism and Masochism), foi então caracterizado por roupas em couro com frases eróticas, alfinetes, rasgões, pins de bandas punk e protestantes, tachas, coleiras, látex, maquilhagem e penteados extravagantes, o que tornou todo este movimento e este estilo num tremendo choque e numa revolução no mundo da moda na época em questão. Vivienne chegou a vestir a histórica banda punk Sex Pistols, e atualmente, é reconhecida como a maior representante da moda inglesa, com as suas coleções excêntricas e provocadoras, que criticam a política e a sociedade atuais. 

Por último, mas não menos importante, falemos agora de uma mulher com M grande, que demonstrou que depois do abismo, é possível reerguer todo um império, até mesmo quando é considerado algo impossível. Donatella Versace. Era a conselheira crítica e fonte de inspiração para o seu irmão, Gianni Versace, e foi, até à morte do mesmo, a denominada “grande mulher por trás de um grande homem” no que diz respeito à marca que ambos desenvolveram, Versace. Em 1997, Gianni foi brutalmente assassinado, e Donatella assumiu o papel de head-designer da marca, enfrentando inúmeros obstáculos e reticências relativamente ao seu trabalho, dada a sua figura polémica e excêntrica. No entanto, com o passar dos anos, Donatella, mantendo-se polémica e sempre fiel a si mesma, confirmou ser a escolha certa para assumir a marca e para o sucesso do seu empreendimento, tendo conseguido reerguer o império Versace, sendo que ainda hoje comanda a marca e continua a produzir grandes sucessos no mundo da moda atual.

Deste modo, é possível concluir que de facto, se refletirmos corretamente, a moda consegue ter uma conotação diferente da estereotipada. A moda é muito mais que modelos. A moda é muito mais que roupas, passerelles, luzes, foco, notícias, distúrbios alimentares, peles, droga, burla. A moda não tem de ser algo encarado como fútil, vazio de conteúdo, supérfluo, sem importância, algo idiota ou como uma perda de tempo. Quem critica este mundo desta forma tão radical, certamente critica de olhos vendados, pois decerto desconhece todas as inúmeras implicações sociológicas e psicológicas que envolvem todo o mundo da moda. A moda é indústria, cultura, história, inovação, quebra, criação. Com a sua ciclicidade e no entanto, também com todas as suas mudanças, a moda retrata transformações em relação a épocas, a culturas e sociedades, bem como a indivíduos. A moda é eterna, mas tudo o que nela está contida é efémero. É também possível concluir que na indústria da moda tanto homens como mulheres podem assumir o mesmo papel e ter exatamente o mesmo sucesso, sendo que qualquer uma das estilistas que referi acima podem ser associadas, por semelhança ou disparidade, a estilistas como Giorgio Armani, Calvin Klein, Christian Dior, Tom Ford, Valentino Garavani e Yves Saint Laurent, por exemplo. Ou seja, mais uma vez destruímos mais um dos estereótipos de que a moda seria feita para as mulheres, quando na realidade a moda é feita para o mundo, independentemente da idade, localização geográfica, religião, cultura, género e orientação sexual. A moda é de todos, para todos.

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Só poderia escrever para ti, quer quisesse quer não. Por muito que a minha mente ou o meu coração, numa tentativa de fuga, te tentassem tirar de mim e do que sou, haveria sempre algo teu nas minhas palavras. Nos meus gestos. No meu olhar. Talvez porque haverá sempre algo teu em mim. Nunca ninguém me olhou como tu. Nunca houve um outro sorriso que me desse tanto a volta à cabeça, nem um olhar tão penetrante e inesquecível como o teu. Desde o primeiro dia que os nossos corpos se cruzaram naquela noite quente de verão, que as nossas almas se ligaram de uma forma inexplicável. O teu olhar corrompeu-me o corpo e chegou-me à alma. E foi assim todos os dias, até hoje, independentemente de tudo. Por isso, pensemos... como poderia não te escrever? És o tudo no meio do meu nada e o quase nada no meio do meu quase tudo. Fazes-me tão bem e ao mesmo tempo tão mal. És-me tanto. Quero afastar-te, mas há algo que não mo permite. Afastar-te faz com que afaste do mundo uma parte de mim. E eu sei que nunca te serei indiferente. Somos o Espelho um do outro, no fundo ambos o sabemos. Sempre o fomos. E por muitas negas e costas voltadas, quando estamos juntos, parece que o mundo pára. Nada mais existe, mais ninguém existe. Só Tu e Eu, naquele terceiro espaço, naquele mundo paralelo. Mas depois, somos assombrados com o Sopro gelado da realidade. Foram escolhas, prioridades. Magoa, muito, mas não há nada que possa fazer, infelizmente. Sei que tão cedo Não te Vou Esquecer, mas vou fazer de tudo para conseguir alcançar de facto a minha felicidade, mesmo que tenha de ser sem ti. Porque mesmo que tenhas ido embora e eu só queira correr para ti, num grito sufocado de "Volta, nunca quis que tivesses ido embora", não posso contrariar as tuas escolhas. Tenho simplesmente de tentar (e conseguir) seguir em frente. Porque, embora te tenha perdido, nunca perderei quem sou na realidade. Isso é certo. Não Me Perco. Foste a minha tarde na praia e a minha noite num bar ao balcão. Foste o meu sorriso e as minhas lágrimas. Foste a minha água, o meu Café Curto e a minha garrafa de vodka. Foste o branco, o rosa e o preto. Foste o tudo e o nada. Tenho, ao menos, a certeza que o que nos uniu, nem que durante um abrir e fechar de olhos, foi de facto sentido, foi de facto Verdadeiro. E nesta corda bamba em que me deixaste, nesta Margem entre a razão e a emoção, neste oceano de dúvidas, questiono todo este tempo que passou. Questiono o presente, questiono o futuro. Entendo que estamos demasiado Longe, que estamos a errar ao estar de costas voltadas. E tu, esconde-te atrás dessas ideias erradas de amor, esconde-te atrás desse Falso Espelho que tens à frente, quando o verdadeiro está apenas coberto com um pano. Longe da vista, longe do coração. E se alguma vez tentares partir o espelho, o verdadeiro, não terás 7 anos de azar, mas sim 7 anos de lembranças minhas. Lembranças e arrependimentos. Por isso pensa, por favor. Até Breve.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Ao longo da nossa vida, inúmeros sóis irão cruzar-se no nosso percurso. Uns irão estar connosco só de passagem, outros ficarão por um tempo indeterminado, tempo esse que variará de sol para sol. Uns estarão à distância de um simples olhar, outros à distância de um toque. Inúmeros sóis irão despontar os maiores sorrisos, irão roubar a nossa respiração, pedir o nosso corpo emprestado, bem como o nosso coração. E nós vamos gostar desse sentimento de posse porque no fundo, é aquilo que mais queremos no momento. Mas mesmo assim, por muitos sóis que apareçam, haverá sempre algo que eles nunca terão. A capacidade de desnudar uma alma com a facilidade com que desnudam um corpo. De demonstrarem amor com tanta facilidade como quando lhes foge pelos lábios um "amo-te" banalizado. Nunca vão ter essa capacidade. Porque isso pertence à lua. Não às luas, mas sim à lua. Porque para mim, cada pessoa tem os seus sóis e a sua lua. a única pessoa capaz de ver a sua alma, tanto as suas facetas mais obscuras, como as mais puras e mesmo assim, continuar à amá-la, exatamente da mesma forma, senão de uma forma ainda mais forte. O segredo está em não nos deixarmos vislumbrar por palavras bonitas e começarmos a dar valor às pequenas coisas da vida, aos gestos mais simples mas mais significativos. Em entendermos que facilidades são uma parvoíce e que se queremos, temos de lutar para ter, porque sem esforço nada se consegue. Se alguma vez encontrares a tua lua, nunca a deixes escapar, porque desnudar a alma é algo que todos querem, mas que nem todos conseguem.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014


a música. as palavras. os gestos. o corpo. a alma. toda ela precisava dele, numa ânsia espontânea, apaixonante, intensa e desesperante. já quase nada soava verdadeiro, e se soava, havia sempre algo que não batia certo. por muitos beijos desenfreados, por muitos gritos entre quatro paredes e sussurros de madrugada, por muitos "amo-te" trocados, por muita suposta felicidade que sentissem, havia sempre algo que faltava. um tão cliché mas tão verdadeiro je ne sais quoi. porquê? pelo simples facto deles precisarem um do outro mais do que alguma vez poderiam sequer imaginar. por muito que nas suas mentes estivessem perfeitamente bem um sem o outro, uma parte deles contraía-se de dores pela falta do outro. uma parte deles que precisava do ar que só o outro podia dar. que se sentia vazio sem o brilho no olhar que o outro outrora lhe despontava. que necessitava do toque de uma só pessoa. que sentia que só um corpo merecia estar colado no seu, por muitos que pudessem proporcionar-lhe as noites mais loucas. ela ansiava por apenas mais um minuto com eleele aproveitava o seu mais recente amor, a sua mais recente conquista, felicidade. ele nunca lhe seria indiferente, e assustava-lhe saber que se algum dia lhe acontecesse alguma coisa e ela se esquecesse do seu próprio nome, provavelmente ainda se lembraria do nome dele. e isso punha a cabeça dela às voltas. pelo contrário, ele, se não se lembrasse do seu próprio nome, lembrar-se-ia do nome da conquista, apenas. porque é o seu presente. mesmo assim lembra-se dela de vez em quando e acredito que ela nunca lhe será indiferente, mas enquanto ela mesmo tentado, não consegue que o seu coração pertença a mais ninguém para além deleele pelo contrário, já a esqueceu há muito e apenas se lembra dela de madrugada, após uma noite quente, com a cabeça da conquista no seu peito e com o corpo entre os lençóis, num momento em que desejava, por um mísero segundo, que a pessoa que está a abraçar não fosse a sua mais recente conquista, mas sim a pessoa que o fez realmente feliz. que não fosse a pessoa que lhe cansava apenas o corpo, mas sim aquela que lhe levava o corpo, o coração e a alma à exaustão, mas que mesmo assim, era aquilo que ele (na altura) mais queria na sua vida, independentemente de tudo. talvez um dia. talvez um dia as coisas mudem. ou talvez não. não sei e neste momento, não me quero preocupar com isso. talvez um dia saiba. talvez.
"uma amizade para a vida e um amor em suspenso". 
desejo-te uma noite cheia de insónia cheia de lembranças minhas, amor.

sábado, 20 de setembro de 2014

     A mudança instalou-se como um tiro no escuro. O mundo ficou mais cinzento e mais frio. O amor e a confiança passaram a ser apenas meros conceitos e as pessoas não passavam de corpos deambulantes de rostos desconhecidos. Embora conseguissem levar uma vida supostamente normal e feliz, faltava-lhes algo. Algo que outrora os fazia esboçar os sorrisos mais sinceros e sentir o inexplicável, agora, pelo contrário, causava-lhes um vazio descomunal, que nem eles próprios sabiam explicar.
  O quarto, tal como o mundo, estava frio. Um ambiente pesado rondava-o, embora ainda permanecesse um aroma adocicado que mais se assemelhava ao perfume de Vénus. Um aroma doce, repleto de memórias, sentimentos fervilhantes e saudade. De duas almas que se juntaram muito antes dos corpos e que só estando juntas se completavam.
   O que antes eram gotas quentes de suor e da paixão que os unia, agora não passavam de gotas geladas como o orvalho ao amanhecer. Gotas em que só restavam memórias, mágoa e saudade. O chão, aquecido pelo calor que os seus corpos emanavam, estava agora gélido, como um bloco de gelo. Os lençóis daquela cama abandonada, estavam agora estagnados e solitários. Mortos. As paredes que outrora guardavam todas as memórias, dos gritos aos amo-te sussurrados, dos risos aos choros, das promessas aos pactos, estavam agora vazias. Ou aparentavam. A mágoa e a nostalgia, aliadas à saudade e ao orgulho, camuflaram o que restava daquele amor inacabado. Excepto aquele perfume tão alucinante como o que os unia. O símbolo de tudo o que se passara dentro e fora daquelas quatro paredes. Daquele terceiro espaço, em que eles viviam, sem sequer saberem da sua existência.
ff  O mundo estava frio e só, bem como o quarto. O mundo, o quarto e eles, que sem saberem, sentiam tanta falta um do outro como um surdo sente a falta de ouvir o bater das ondas nas rochas de uma praia deserta. Sentiam tanta falta um do outro que nem sequer conseguiam explicá-lo. Os sentimentos e pensamentos transcendiam-nos e talvez por isso, o afastamento foi algo inevitável. Sentiam falta de quando o tempo parava quando estavam juntos. Sentiam falta do prazer sem nunca terem sucumbido ao desejo. Sentiam falta dos beijos que não deram, dos amo-te que não disseram e das verdades que nunca conseguiram expressar. Como alguém que sente falta de ver o azul do céu, nascendo invisual. Sentiam saudades do que nunca tiveram, do que nunca foram.
    Eles podiam ter sido tudo, mas não arriscaram o suficiente, mataram-se por jogarem pelo seguro. Tinham tanto para dizer um ao outro e perderam as palavras num misto de encontro e abandono. Eles só queriam que tudo voltasse. Sonhos constantes assombravam-nos noite após noite. Bebiam os sorrisos e as magias um do outro. Beijavam os seus sonhos, acariciavam os seus desejos e estavam felizes. Plenamente felizes. Sonhavam com o que podiam ter sido e com o que quase eram, sem saberem. Até ao momento em que acordavam com a dura realidade de que tudo aquilo não passava de meros sonhos, e que a realidade era  totalmente oposta. E ali permaneciam, sozinhos e afundados num vazio descomunal, ainda mais profundo e gélido que o quarto e o mundo.
     Eles só queriam ser donos do seu destino. Queriam voltar a ser uma alma entre dois corpos, um destino entre dois sonhos. Um acreditar entre duas vontades. Uma força entre duas conquistas. Um conforto entre duas companhias. Um defeito para uma qualidade. Um total para duas metades. Um existir, entre dois corpos ao vento. Um tudo no meio do nada. Queriam ser tudo isso de novo, sem fazerem sequer ideia que já o tinham sido.
   E eles ainda eram tudo isso, sem sequer o saberem. Eram o lume de uma paixão inacabada. Ocultada. Nunca aproveitada ou arriscada. Eram dois mundos à eterna descoberta das maravilhas da vida. O mundo, o quarto e eles estavam vazios, frios e sós. Mas aquele perfume adocicado permanecia. A chama de uma vela no meio de quatro paredes escuras. Havia uma réstia daquele amor tão poderoso e fatal, cuja existência eles sempre desconheceram. Só lhes restava a eles voltar a fazer tudo de novo. Mas será que conseguiam? Conseguiam retomar algo que nunca começaram? Ressuscitar algo que nunca chegou a nascer, ou que pelo menos, nunca teve uma vida reconhecida?
    Lembravam-se perfeitamente de cada momento. Cada segundo. Cada olhar trocado. Cada palavra proferida e cada abraço sentido. Lembravam-se de cada milímetro do corpo um do outro, até mesmo daquilo que nunca viram. Lembravam-se de todas as declarações de amor que nunca fizeram e das discussões que nunca tiveram. Aperceberam-se que havia algo para além da amizade que tinham. Um diamante que precisava de ser lapidado. Um mero sorriso conseguia congelar o tempo, a voz de um era a música preferida do outro e quando os seus olhares se cruzavam, nada mais importava. Quando os átomos que os constituíam se afastaram como um pedaço de gelo quebrado, ambos perderam algo que não sabiam sequer que existia. Perderam a chama que os aquecia. Perderam a luz das estrelas, estrelas singelas e lindíssimas, que ao olharem o céu jamais tinham visto (nem tornaram a ver). Perderam o porto de abrigo. Aquilo que achavam que não era nada, mas que no fim se revelou tudo. Quem lhes ativava os pulmões, lhes fugia pela boca. Quem fazia os seus poros gritar, quando os corpos se fundiam num. Quem lhes bombeava sangue ao coração e os fazia sentir o impensável, embora fosse encarado com uma maldita normalidade. Quem fazia os defeitos parecerem virtudes e noites parecerem dias. Entenderam que as coisas simples que os uniam eram as melhores coisas do mundo. Lembravam-se da profundidade dos seus olhos cor de mel, presos nas suas peles.
    Até já as pedras da calçada e as ondas do mar choravam por eles, sentiam a sua falta. Das palavras que eles sussurravam um ao outro sem sequer dizerem nada. Dos beijos que trocavam com o olhar e dos dias e noites que passavam juntos em mente. O que eles mais queriam era que tudo voltasse. Queriam fazer o outro perceber que o mundo era deles e que iriam para onde o outro fosse, independentemente de tudo. Queriam estar juntos, no mar gélido de defeitos e palavras saídas do coração. Queriam trocar mais beijos com o olhar e depois com os lábios. Queriam passar mais dias e noites juntos com a mente, e mais tarde com o corpo, naquela rotina que eles adoravam, mesmo não se apercebendo da sua existência. Queriam comprovar que ainda se lembravam na perfeição de cada contorno um do outro. Que a voz ainda era a mesma, bem como o sorriso inocente e o olhar intenso. Queriam que se lhes lessem os seus desejos. Os sonhos que sonhavam, após as madrugadas de insónias. Queriam tudo isto, mas não o sabiam ao certo. Faltava-lhes algo, mas ainda não sabiam decifrar o que era. Por isso, decidiram permanecer em silêncios que lhes arrepiavam o coração. Permaneceram despidos de tudo o que os mantinha quentes. Ficaram sem teto, sem chão. Até ao dia em que finalmente abriram os olhos e se aperceberam da realidade que os unia. E que forte realidade. 
Mas será que não era demasiado tarde?

- texto ficcional-